Agronegócio, Brasil e Israel
Por Rodrigo Capella
Nos bastidores do nosso agronegócio, cada vez mais, se comenta sobre a possibilidade de uma parceria mais efetiva entre Israel e Brasil. Animados e confiantes, agropecuaristas já falam em ter a mesma sinergia dos anos 60 e 70, quando existiam iniciativas como o Projeto Machado, no qual Israel, com habilidades em agricultura, enviava especialistas para o Brasil.
Mais de quarenta anos depois, o foco da relação é outro: a tecnologia. Se no Brasil, as ferramentas digitais para utilização no campo ganharam dimensões nos últimos oito anos, em Israel este movimento já se consagrou, a ponto de o país ser considerado sinônimo de inovação.
Para entender melhor este cenário e identificar de fato o que o Brasil pode aprender com esta nação, fui conversar com Yossi Shelley, embaixador de Israel no Brasil.
Durante a nossa prosa, soube que 67% da terra de Israel está no deserto semiárido e que a incidência de chuva neste país é muito pequena. De acordo com o embaixador, no Sul o volume é de 100 mm/ano, enquanto no Norte chega a 1.000 mm/ano. “Você não pode fazer quase nada”, disse.
Outro ponto destacado por Shelley foi a falta de parceiros comerciais próximos, tornando Israel, em alguns aspectos, uma nação isolada. “Então, você precisa se desenvolver para sobreviver”, observou.
Esta primeira questão relatada pelo embaixador – a da dificuldade – poderia servir de incentivo para o Brasil. Por aqui, temos terras que seriam mais produtivas, se o país de fato enfrentasse os obstáculos. Muitas vezes as soluções precisam muito mais de incentivo às ideias sólidas, do que amplo investimento.
Por conta das questões aqui mencionadas e também de outras, Israel incentivou naturalmente o desenvolvimento de pesquisas com foco em agronegócio, com destaque para a irrigação inteligente e a genética de alimentos.
Nasceram a partir daí o tomate cereja, muito consumido no Brasil, principalmente, em saladas, e também sistemas de cotejamento que podem aumentar uma produção agrícola em até 30%.
São exemplos eficazes e inspiradores. Se um país com recursos naturais limitados conseguiu se desenvolver com tanta plenitude, porque uma nação rica em biodiversidade, muitas vezes tropeça no quesito desenvolvimento? Seria a falta de dificuldades, as poucas ideias criativas ou a escassez de habilidades? Não, claro que não.
Rodrigo Capella é Diretor Geral da Ação Estratégica, empresa de comunicação e marketing com ampla experiência no segmento de agronegócio.
Pós-graduado em Jornalismo Institucional, Capella é escritor, palestrante e também ministra cursos e treinamentos sobre comunicação digital. E-mail: capella@acaoestrategica.com.br